A iniciativa, intitulada “Beleza para Todas”, tem o propósito de resgatar a autoestima e a percepção identitária de PCDs

Um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2023 apontou que, em Sergipe, 279 mil pessoas com dois anos ou mais de idade possuem algum tipo de deficiência, o que representa 12,1% da população sergipana, o maior percentual do país. Sabe-se que, mesmo com amplo debate recente sobre inclusão, por questões históricas, mulheres com deficiência ainda se sentem à margem da sociedade, por muitas vezes serem privadas de participação social. Foi a partir deste cenário e da conexão com sua própria vivência que a jornalista e técnica administrativa em educação, Jéssica Vieira, deu início ao projeto de extensão da Universidade Federal de Sergipe (UFS) “Beleza para Todas”, que tem a premissa de ensinar a automaquiagem para mulheres com deficiência visual.

Coordenadora da iniciativa e pessoa com deficiência visual congênita, Jéssica explica que muitas mulheres com essa característica não se compreendem enquanto mulheres, uma vez que há uma expectativa de construção do “ser mulher” pautada no cenário da beleza e da autoimagem, no qual muitas vezes nunca foram inseridas.

“Nesse contexto, o projeto tem como objetivo resgatar a autoestima e a percepção identitária dessas mulheres junto à sociedade. Existe também uma motivação pessoal envolvida, uma vez que eu nasci com uma deficiência visual congênita, severa e permanente, e ter sido apresentada desde a adolescência ao universo da beleza contribuiu significativamente para a minha autoestima e a percepção de que posso ocupar lugares independente da minha limitação”, partilha Jéssica.

Pró-reitora de Extensão e Cultura (proex/UFS), a professora Sueli Pereira revela que a UFS, através não somente de seus projetos de extensão, têm buscado cada vez mais promover atividades inclusivas. “O ‘Beleza para Todas’ é um projeto belíssimo de acolhimento e troca, em que várias mulheres, com diferentes de graus de deficiência visual, se reúnem com um propósito único: através da automaqueagem, se sentirem belas e bem”.

A estudante de Jornalismo e bolsista do “Beleza para Todas”, Paloma Freitas, conta que cada encontro do projeto é um momento de troca de experiências. “A cada oficina, aprendo junto com as participantes, porque elas vivenciam o mundo de forma diferente. Elas têm me ensinado muito sobre autoconhecimento e autocuidado, a percepção que elas têm do próprio rosto é surreal. Além disso, elas se divertem durante as oficinas e até as mulheres que não gostavam nem de passar batom, hoje se aventuram para usar sombras e tudo mais”.

Sandra Bispo é membro da Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe (Adevise) e participante do “Beleza para Todas”. Deficiente visual total, do olho esquerdo há 12 anos e do olho direito há quatro, Sandra conta que sempre foi muito vaidosa. “Quando eu enxergava, minha maquiagem era coisa muito simples, mas eu sempre gostei de passar base, um delineador e, lógico, o indispensável, o batom. E quando eu fiquei cega total, eu ficava naquela dúvida: ‘caramba, como eu vou me maquiar?’. Foi quando surgiu esse projeto que caiu como uma luva. Está me fazendo super bem! Estou aprendendo novas técnicas, conhecendo os produtos de maquiagem com mais clareza, com detalhes que eu não dava importância quando enxergava, mas que hoje percebo com o toque das mãos”.

“Dentro do meu íntimo, do meu particular, estou superando e vencendo os meus limites. Acredito que tem pessoas que enxergam, mas esquecem de viver, são frustradas. E eu, que perdi a visão, pelo contrário, não vejo mais com os olhos do mundo, mas enxergo com os olhos do coração”, compartilha.

Brunna Martins – Ascom UFS

Fonte: https://www.ufs.br/conteudo/75575-projeto-de-extensao-da-ufs-ensina-automaquiagem-para-mulheres-com-deficiencia-visual